No Brasil, o exemplo recente desse abandono racional da realidade é o Redentor (2004),de Cláudio Torres. Onde toda a história gira entorno do personagem de Pedro Cardoso, um jornalista que na infância foi amigo de um dos magnatas do setor imobiliário carioca, e assim levou seus pais a comprarem um apartamento na então terra dos sonhos ,numa época em que a Zona sul carioca já começa a se mostrar supervalorizada e com pouco espaço para novas construções :a Barra da Tijuca. Entretanto a conclusão deste negocio nunca chegará a acontecer, e uma divida eterna irá se estabelecer.
Como uma de suas várias temáticas o filme aborda a ganância, que faz parte da personalidade das pessoas, através de algumas falas do personagem de Miguel Falabella, que nos levam a constatar, que mesmo que uma quantia em dinheiro fosse dividida igualmente as pessoas não se dariam por satisfeitas. Por natureza elas querem sempre mais.
E é por meio do personagem de Pedro Cardoso, que a produção coloca em voga, uma critica a corrupção, na politica e no jornalismo, um assunto muito atual em tempos de um governo pós-populista, onde o que importa é o voto das massas.
A produção aposta ainda num casamento, brilhantemente realizado entre trilha sonora erudita e popular, empregadas nas cenas de suspense, e no clímax da história, respectivamente.
O longa metragem, ainda traz a tona uma discussão sobre a religiosidade, num momento em que o roteiro, se transformar numa grande farofa, dada a forma brusca, e imediata como essa virada acontece. Contudo, a brilhante direção de Cláudio Torres, em conjunto com o grandioso elenco que — além dos já citados —,conta com nomes como o de Camila Pitanga, Fernanda Montenegro e Stenio Garcia; ameniza os efeitos dessa virada de roteiro.
A qualidade técnica, das cenas, combinadas com a brilhante mistura musical, colocam o espectador, diante de uma reflexão sobre a vida do personagem central e suas escolhas, e o conduzem ao questionamento quanto à lucidez de Célio Rocha(Pedro Cardoso), de forma profunda e levemente cômica.
Entre os autores, aparece o nome de João Emanuel Carneiro, que atualmente é responsável pela representação televisiva, da nova classe média, vista em Avenida Brasil.