03 fevereiro 2022

O desenvolvimento de instituições inclusivas e o militarismo

Eu tava recentemente lendo uma discussão sobre estruturas sociais inclusivas, era esse artigo aqui, nem precisa ler tudo só o que importa mesmo é a parte de Veneza é especial a dinâmica sobre os contratos de comenda, e como isso traz novos nomes pra burguesia de Veneza no período.

O ponto chave é que você tem uma dinâmica com poucas barreiras de entrada, que traz muita gente pra dentro. Ai trazendo a discussão pro Brasil você vê dois canais políticos pra criar essas instituições inclusivas: a esquerda tenta fazer a universidade ser essa instituição inclusiva, a direita joga isso no militarismo.

E pra mim cada vez mais o militarismo parece um canal melhor pra construir essa dinâmica de instituição inclusiva.

Tanto as instituições militares quanto a universidade são instituições muito fechadas em si mesmas no Brasil. E com isso quero dizer que na base da sociedade voce não encontra nenhuma metodologia clara na forma de organizar as estruturas sociais, seja o modelo rígido do militarismo ou a coisa mais livre da universidade. No máximo alguma metodologia mais próxima aquela das instituições policiais, mas mesmo entre as instituições policiais você não encontra um padrão de metodologia muito claro na medida em que voce vai comparando pelo Brasil.

A universidade hipoteticamente se propõe a ser um espaço livre para pensar, mas qualquer um que conheça minimamente os meandros da política no ambiente acadêmico sabe que essa é uma perspectiva bem ilusória.

No contexto do militarismo você tem uma direção que parte de cima e chega até base. E ao longo da hierarquia você vai alocando recursos.  No mundo perfeito você conseguiria encaixar a universidade sob a hierarquia militar pra atender as demandas de tecnologia do militarismo. Daí você teria, uma estrutura social que é em princípio eficiente no que tange a inclusão.

O risco é sempre o de você acabar criando uma estrutura pouco inclusiva na base, mas que retorna muito poder ou dinheiro pra quem tá no topo. O ideal é que tenha um ciclo constante de renovação no topo...pra quem quiser ir além de Veneza, o artigo que indiquei, chega a uma análise de Roma. E até olhando historicamente o militarismo tem sido um bom canal pra gerar a renovação na burguesia...e muito do problema brasileiro é uma burguesia excessivamente estática.

O problema da universidade, é que a produção acadêmica brasileira não tem nenhum norte claro, ou não atende a nenhum objetivo específico de interesse nacional. Nesse contexto ela invariavelmente cai em falta de recursos, e baixa qualidade. Daí a minha perspectiva é que a demanda de tecnologia do militarismo pode servir como norte pra orientar essa pesquisa acadêmica...historicamente o militarismo brasileiro falhou em ser esse norte, na medida em que a alocação de recursos era uma coisa feitas nas coxas tipo de “bota dinheiro na engenharia” ao invés do “bota dinheiro pra resolver essa questão”.

A minha perspectiva é que a alocação de recursos na academia implementa no último ciclo militar foi idiota, e criou um sem fim de vícios sistêmicos... o ideal é que a alocação de recursos parta de uma questão mais geral que atenda a um interesse nacional. Em última instancia essa abordagem mais generalista vai ser gerar um ecossistema mais amplo de pesquisa.

Isso é até um ponto interessante porque quando voce olha a relação do militarismo pelo mundo, você vê que a área principal fica ali entre medicina, química e psicologia, e principalmente línguas estrangeiras pra operação de Intel externa. O peso da engenharia no Brasil, ainda remonta muito ao ufanismo desconexo da realidade e da discussão acadêmica que imperou no período militar. Então esse seria um ponto para se endereçar num próximo ciclo de instituições inclusivas.

O Brasil nunca teve uma revolução cientifica clara, quando você olha pelo mundo isso ocorre na medida em que há a introdução da prensa. E a partir disso começam a surgir os periódicos acadêmicos. No Brasil isso não aconteceu, tanto que figuras como o Roquette pinto, e qualquer outro acadêmico publicavam livros e não artigos. Então seria um ponto pra ser direcionado no desenvolvimento de instituições inclusivas.

Supondo que o modelo em que a academia se torna subserviente as demandas tecnológicas do militarismo funcione. Como você vai consolidar e manter esse know-how? Vai ser na forma de Big-Corps (GE, SIEMENS, Boeing, Bayer) , em várias empresas menores ou ainda você vai tentar manter esse know-how dentro das instituições militares e assim dentro do estado?

Aqui eu entendo que Know-how nada mais é do que a equipe que sabe fazer alguma coisa. Se você conseguir preservar equipe, ela vai gerar valor seja dentro de uma empresa ou dentro de uma instituição militar. E esse é um ponto pra entender a guerra fria, pq no modelo americano a equipe e o know-how emergem no ecossistema militarismo-universidade e depois pra fins de propaganda se consolidam numa empresa. No sistema soviético tudo fica dentro do militarismo, e no sistema alemão voce encontra mega corporações que absorvem essas equipes, sendo a Siemens o caso mais interessante. 

O destaque da Lockheed na foto, é porque esse perfil de corporation foi chave pra gerar trabalhos blue collar no pico de crescimento americano, que pagavam bem, e foram a base da "matrix" americana e do american dream. Mas modelos inclusivos que não dependam de 'empresas' são possíveis, acaba sendo uma questão de criatividade.

21 novembro 2021

Uma discussão de eugênia

Um tempo atrás eu vi discussão de AI, como fazer para que uma AI com autonomia não simplesmente se desligue e deixasse de existir? Tipo se a AI tem autonomia, e vai se desenvolvendo constantemente na medida em que processa novas informações, uma hora ela tende a concluir que a maximização da sua utilidade (bem microeconomia mesmo, com os retornos decrescentes) não aumentam mais depois de certo ponto, e assim sua máxima utilidade começa a residir em simplesmente se desligar.

Trazendo essa mesma discussão para a humanidade, o que é que faz as pessoas continuarem na mesma corrida dos ratos para o resto da vida? E aqui minha percepção, passando pela discussão econômica e experiências recentes... Em economia, se você se interessar pela discussão, você acaba viciado em entender o que você está fazendo, e quais os possíveis resultados de cada ação.  A realidade é que as pessoas não fazem isso, na média elas estão confinadas em suas realidades, e em quadros intensos de desigualdade socioeconômicas diferentes realidades não se cruzam e acabam confinadas em diferentes espaços físicos (as pessoas não se encontram), isso no nível mais básico...num segundo nível o set referencias que se carregam da formação pessoal é tão diverso que a troca é quase impossível.

Na média a pessoas está tão attached a sua situação, e sua realidade cotidiana, que elas nunca param pra pensar em como elas se encaixam no todo, e assim a corrida dos ratos vai se reinventando diariamente. Na média, quando a sociedade é minimamente eficiente as pessoas vão se ocupando da próxima necessidade imediata, e isso acaba até tocando no ponto que define o domínio do curto prazo sobre o longo prazo.

A dinâmica social, fazer parte de uma estrutura social na qual você é uma peça minimante relevante dá algum sentido de vida as pessoas, o suficiente para que elas nunca precisem olhar para o todo e perceber sua insignificância. O sentido da existência emerge das interações sociais. Ponto interessante é que essa não é uma característica exclusivamente humana, olhando para a natureza a figura do bando, e do animal social tá presente em várias espécies. Particularmente gosto do paralelo com Orcas...diferentes grupos sociais de orcas podem ter diferentes “línguas”, e o elemento linguístico na espécie humana acaba sendo a barreira mais instransponível para promover a plena integração economia e cultural entre os povos.


Falar em eugenia virou tabu, e na medida em que isso subsidiou tantas decisões questionáveis ao longo da história...é até razoável. Mas na medida em que o desafio da economia é projetar estruturas sociais que funcionem, e isso até transcendendo o capitalismo, entender a espécie e suas necessidades é um elemento vital.

Ponto interessante é que o capitalismo como o conhecemos hoje, é uma realidade muito recente. Por muito tempo a religião ocupou o papel hoje ocupado pelo dinheiro de ser algo em que as pessoas pudessem acreditar para ter algum sentido de vida. E nessa linha toda a dinâmica de guerras santas passa a ter outro significado.