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08 abril 2017

A divergência entre fiscalizados e fiscalizadores



Assistir palestras acaba um sendo um passatempo bem acessível nesses tempos de youtube. E eis que hoje vendo um debate entre Suplicy e Olavo de Carvalho, começa a ficar bem claro o que está acontecendo no Brasil. É um período de transição, alguns que outrora teriam sido intelectuais de referência na cena nacional, começam a evidenciar que estavam apenas aplicando sua própria interpretação do mundo nas suas análises, que provavelmente estariam altamente expostas a tornarem-se politicas públicas em outros tempos. O que não se configura como um problema, já que usualmente a lógica é “tem-se um problema, algum intelectual pensa esse problema, e desenvolve uma solução”. A grande questão fica mesmo evidente quando se percebe o quão descolado da realidade essa análise é, e por consequência fadada ao fracasso. Olhando a fundo,traços desse raciocínio podem ser percebidos em toda a legislação brasileira, que inúmeras vezes é a perfeição social-burocrática em si própria, mas totalmente inaplicável.

Daí faz sentido entender o grande medo que assola o empresariado brasileiro, e talvez o porquê de haver uma certa associação indireta entre essa classe e a direita brasileira. Já que esquerda, está rodeada de especialistas desse tipo [aquartelados nas universidades e distantes da realidade], o que talvez lhes tenham proporcionado uma certa vantagem histórica, na medida em que o discurso com certa base acadêmica, em sua essência tem maior peso social, isso associado as respostas simples capazes de uma engajar uma classe artística sem grande profundidade intelectual
num período de claras desigualdades na sociedade brasileira(em especial o período marcado pela estagflação até o inicio dos anos 2000). E de um modo geral, temos esses quadro de atores e interesses confusos,nos trazendo a esse período de transição contemporâneo.

Desde os anos 2000 a economia brasileira sofre uma acelerada transição, do “faz aí”, para uma geração que cada vez mais se volta a pensar em “como fazer, para então fazer”. Ao mesmo tempo, a elite que conseguiu ascender em meio ao conturbado período pré-anos 2000, se consolidou, e agora os filhos desses indivíduos, junto com alguns incríveis casos de superação do contexto social volta ao Brasil, trazendo na bagagem um background com o melhor que as Ivy-Leagues lhes puderam oferecer. Essa geração quer ocupar o seu espaço, e é aí que vão surgindo os Ségio’s Moro’s ou Deltan’s Delangnol’s. Vai sendo evidente, por uma simples análise de currículo, a diferença no capital social acumulado por esses indivíduos, e a atual classe politica brasileira, que construiu seu capital social, num cenário distante da consolidação dominado pelo “faz aí”. Enquanto que aqueles regressando das Ivy das Leagues construíram seu capital social num contexto já consolidado, e por consequência onde o “faz aí” já estava superado.

Não é que um vá estar mais certo do que outro, a questão chave é que construções individuais diferentes vão gerar perspectivas diferentes. Logo temos réguas diferentes, entre fiscalizadores e os fiscalizados. E como a tendência é que os fiscalizadores cada vez mais construam seu capital social num contexto já consolidado, os embates tendem a ser cada vez mais intensos entre as duas classes. A classe política será, pela essência do seu modus operandi, mais lenta no que se refere a absorver esses indivíduos que absorveram o capital social num cenário consolidado. Aqui enfocamos, na acumulação de capital social em cenários consolidados e  não-consolidados, mas cabe pensar que por hora o Brasil ainda vive a transição, então até que o país esteja consolidado teremos ainda a acumulação de capital social num cenário intermediário.