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20 novembro 2017

Por quê a SELIC tem que ser alta?


Parte 1: http://www.cinemaecia.com/2017/11/selic-cambiocomo-funcionae-verde.html Bom anteriormente eu desenvolvi a seguinte ideia da perspectiva de Brasil ( aqui http://www.cinemaecia.com/2017/11/selic-cambiocomo-funcionae-verde.html )



Mas nesse caso foi só para dar uma noção de como o BraZil é complicado nesse aspecto, então vamos dar uma olhada no outro lado (INVESTIDOR EXTERNO), vou até usar os mesmos números.

Suponhamos que você tenha seus 3076 USD e queira investir no Brasil. Sua primeira missão é descobrir quantos BRL você vai ter:

O que nos valores de hoje vai dar mais ou menos

Digamos que esses mesmo 10k, vão render a mesma taxa de 10% que eu já tinha usado anteriormente.

Então eu tenho 
(isso ainda em reais)

Só que o grande detalhe, é que usando aquele mesmo câmbio de 7 reais, quando eu for sair esses 11k vão ser divididos do meu montante inicial e não multiplicados como eram anteriormente. Então dá uma olhada em como isso vai ficar zoado.  


O que se traduz em um prejuízo de 49%, como dá para ver aqui


Para fins matemáticos se o meu montante inicial é 1 então  quando eu faço 0,51 - 1 = - 0,49

Assim já para começar a entender porque a taxa de juros tem que ser tão alta por aqui. E bom, como a cada eleição aparece uma nova surpresa,e a expectativa do câmbio na saída vai bagunçando toda a taxa de juros.

O que é importante perceber aí é que com o mesmo cenário eu já gerei um lucro gigantesco para quem está no Brasil e um prejuízo gigantesco para que está de fora. Um mínimo de bom senso, já ajuda a entender porque a taxa de juros tem que ser alta por aqui.

Afinal no fim dia eu só vou conseguir atrair dinheiro (Externo) para cá se eu gerar NO MÍNIMO o famigerado


Vamos colocar isso na forma de equação para entender melhor

Quando eu entro


Agora a parte triste da história, quando eu (INVESTIDOR INTERNACIONAL) for sair 


Agora vamos generalizar isso “Câmbio na entrada” vai ser só “câmbio”, e “câmbio na saída” vai ser “Expectativa de câmbio”

eu expliquei como funciona o funciona o câmbio nos mercados de forex... 




Vendo a partir dos EUA
Moeda local (USD) em termos de moeda estrangeira (BRL)
1 USD =3,25 BRL
Quando encontrar USD/qualquer_moeda  é isso que temos

E vendo a partir do Brasil
Moeda estrangeira (USD) em termos de moeda local (BRL)


1 USD=3,25 BRL


então como é o mesmo número, na medida em que a “expectativa de câmbio aumenta”, o rendimento da dívida local diminui. Logo se a Selic não sobe para compensar o aumento na expectativa. Eu nunca vou conseguir captar dinheiro (EXTERNO) lá fora, já que se quebra a lógica de que (taxa de juros interna junto com câmbio, deveria igualar a taxa de juros externa)  


o que vai ficar claro, agora quando eu jogar os juros internacionais na equação 


Se você bem se lembra no primeiro texto dessa série, eu disse


“o “seu montante”, vai pro lado que estiver temporariamente maior ”

O que fica claro na perspectiva em que conforme eu aumento a expectativa de câmbio (joguinho de proporção) eu formo


(Lembre-se isso é na ótica do investidor internacional)
(aqui eu deixei seu montante ai, para manter a lógica, mas na real ele vai pro i*)

Se a Selic não sobe, para compensar a expectativa, a dívida local não consegue ser minimamente atrativa no mercado de renda fixa internacional.

Bom, quanto ao porque da expectativa subir, isso é só olhar para como nossos políticos estão fundamentando decisões cruciais sobre o futuro (aqui um exemplo bem básico http://www.cinemaecia.com/2017/10/cpi-da-previdencia-piada-do-seculo.html ) . Quando você tentar incluir o prêmio de risco nessa lógica, você percebe que mesmo com ele, ainda tem uma chance gigantesca dele ser anulado pela expectativa de câmbio.


Resumindo o mercado de dívida brasileiro, talvez como uma consequência do nível superficial das discussões em Brasilia, acaba sendo favorável demais para com os agentes que vão capturar o lucro localmente.  O mais interessante é que isso é uma gigantesca consequência de um quadro em que nossos parlamentares, pensam mais na próxima eleição do que em tentar entender o que está sendo discutido na CPI ( e a da previdência é só mais um caso). Da parte do mercado, bom os agentes são racionais, e maximizam seus rendimentos. E aqui é só como o jogo funciona.

Na perspectiva geral esse detalhe da forma como estamos expressando o câmbio é o que vai ser mais confuso, tanto que ele muda nas diferentes edições do Manual do Blanchard (esquerda 6ed americana, e a direita 2ed)[Figura 20.1 na seção 20.2 O equilíbrio nos mercados financeiros].


Some-se a essa perspectiva que no artigo sobre o Brasil  ( http://www.nber.org/papers/w10389 ) o argumento era justamente se o BC deveria ter agindo imediatamente, na Selic (i) para sanar a mudança na expectativa de câmbio.


De quebra ainda tem a questão da inflação, mas isso já vai ser uma outra discussão.

18 novembro 2017

Dominância Fiscal: Sargent e Wallace

Da série traduções informais, não autorizadas, e não solicitadas

Some Unpleasant Monetarist Arithmetic


Aqui  a gente traduz apenas a introdução com a ideia geral do artigo,  que é traz um dos canais de dominância fiscal. O Blanchard, olhando pro Brasil pré-Lula constrói um outro canal mais enfocado no mercado de câmbio.

Em seu discurso para a American Economic Association, Milton Friedman (1968) avisou para que não se esperasse demais da política monetária. Em particular, Friedman argumentou que a política monetária não poderia influenciar permanentemente os níveis de produto real, desemprego ou taxas reais de retorno em títulos da dívida. De qualquer modo, Friedman falou assertivamente que a autoridade monetária poderia exercer um importante controle sobre a taxa de inflação no longo prazo. O propósito desse artigo é argumentar que mesmo em uma economia que satisfaz as premissas monetárias, se a política monetária é interpretada como operações de mercado aberto, então a lista de coisas que a política monetária é incapaz de fazer deve ser expandida para abarcar o controle da inflação.
No contexto desse artigo, uma economia que satisfaz as premissas monetárias (ou uma economia monetarista), tem duas características: a base monetária está diretamente conectada ao nível de preços, e a autoridade monetária pode aumentar o seignorage (TRAD:Aka liga a impressora),  ou seja obter receita através da emissão de moeda. Nós mostraremos que sob certas circunstâncias, o controle que a autoridade monetária possui sobre a inflação em uma economia monetárista é bastante limitado, mesmo quando a relação entre a base monetária e o nível de preços é forte. Em particular nós vamos demonstrar que isso é verdade quando políticas monetárias e fiscal, são coordenadas de um modo específico, e a demanda do público por juros da divida pública tem uma certa forma.

A demanda da dívida pública impõe restrições ao endividamento do governo de pelo menos duas formas. Na primeira forma, impõe-se uma restrição na relação dívida/PIB (TRAD: Se o resultado é  >1 a divida é superior a 100% do PIB [EUA e Japão], no Brasil é por volta de 0,7-0,8 (70-80%)). Outra forma é estabelecendo a taxa de juros dos títulos.

(TRAD: Pra entender essa ideia é bom pensar que quando se fala em economia aberta, existe o conceito de que a taxa de juros local deve pelo menos igualar a taxa de juros externa i=i*, assim por exemplo quando taxa de juros interna é maior que a externa, essa diferença é entendida como o prêmio de risco. Mas nem sempre é assim, por exemplo quando Brasil pagava 80% de juros durante a hiperinflação,o que rolava é  que com as variações do câmbio esses 80% viram 2%-10% em moeda estrangeira). Na verdade essa coisa de achar que tá pagando demais, e na verdade tá dando prejuízo pro outro lado é a cara do Brasil, o Hobsbawn vai falar sobre isso, quando trata da Inglaterra construindo ferrovias pelo Mundo na Revolução Industrial (A era das Revoluções).)
                                      
Na perspectiva em que a autoridade monetária acaba sob essas restrições, ela tem sua capacidade de controlar a inflação capada/limitada, em parte isso ainda vai também depender do modo como as políticas monetárias e fiscal são coordenadas.

Para ver isso vamos desenhar os seguintes quadros:

Primeiro quadro:

Imagine que política monetária (TRAD: figura do BC, Ministério da Fazenda) , domina a política fiscal (TRAD: Todos os gastos, que vão ser centralizados na figura do MPOG). Nesse formato a autoridade monetária ajusta suas próprias metas, definindo quanto vai imprimir, agora e no futuro. A autoridade fiscal sob essa restrição, define quanto vai gastar, se o orçamento fica negativo, esse déficit é financiado com uma combinação entre impressão e emissão de dívida.
(TRAD: Os autores, meio que encaram como que se a dívida fosse emitida pelo fiscal , na figura do tesouro nacional, mas no Brasil esse quadro é meio confuso, daí emerge a necessidade por uma lei de responsabilidade fiscal nessa real burocracia)

Nesse quadro a autoridade monetária (TRAD: Que é dominante), pode permanentemente controlar a inflação em uma economia monetarista, por que o lado monetário, pode escolher a que taxa gostaria de imprimir, em outras palavras definir o caminho que gostaria de seguir com a base monetária. (TRAD: E a via fiscal se ajusta respondendo a via monetária)

(TRAD: Basicamente o BC diz quanto está disposto a imprimir, e a partir dessa informação se define o orçamento público no MPOG)

Segundo quadro:

Agora o lado fiscal é dominante. A autoridade fiscal (TRAD: num ato de solitude, já que solidão é triste, e é dificilmente imaginar alguém triste com um amex black) ajusta seu orçamento anunciando todos os atuais e futuros déficits e superávits, e (TRAD: entrega a conta para o lado monetário, que vai resolver isso via dívida e impressão, lembra o Bumlai recebendo a conta do PT https://www.youtube.com/watch?v=McsjTgoDpTQ ). Mesmo que a autoridade monetária ainda possa controla a inflação, a força desse controle é menor que sob o primeiro cenário. (TRAD: Aqui é a via monetária que se ajusta sob as definições da via fiscal).




(TRAD: O ponto aqui é que via monetária está sob aquelas restrições iniciais, quanto mais dívida no mercado, mas juros, e quanto mais juros pior a relação dívida/PIB,para evitar esse quadro ativa-se a impressora e tolera-se a inflação)

(TRAD: Já para adiantar o que vai ser a chave nessa discussão, mesmo que se explore ao máximo o financiamento via dívida agora(t), invariavelmente isso vai gerar expectativa de inflação futura(t+1) [já que o fiscal continua dando déficit], dai o texto olha pro jogo entre uma taxa de impressão maior ou menor agora + Expectativa de inflação e como essa expectativa pode gerar mesmo agora (t) uma taxa de inflação mais alta).

Essa introdução ainda segue um pouco, mas com essas notas já deu para cobrir o principal.


O melhor é sempre ler o original até, porque esse é um texto bem descompromissado, mais pra levantar e qualificar a discussão, do que pra propriamente oferecer alguma conclusão. 

https://www.minneapolisfed.org/research/qr/qr531.pdf