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03 março 2021

Finanças de bilionário, divida pública e politica fiscal


Um dos argumentos mais frequentes no discurso dos conservadores econômicos, em política fiscal, que é repetido de forma cega é a ideia de que em algum momento as contas precisam fechar. Tal qual nas finanças domésticas. A bem verdade, o atual quadro da dívida mundial é a prova cabal de que as contas sequer devem fechar.

Toda a dinâmica do sistema atual é baseada no lastro em dívida pública, alguns mais ousados falariam em dívida AAA, mas sendo objetivo a LVMH não imprime moeda. Esticando esse argumento é possível que em algum momento, isso volte a causar conflitos na zona do Euro (não na Europa).

Quando pensamos em dívida pública geralmente o mindset é pensar em “porque deu errado para alguns países?”, porém é mais interessante pensar o porquê de alguns mercados terem dado tão mais certos do que outros?

Esse argumento ainda está em construção, e possivelmente será atualizado.

No mundo moderno é fator comum para esses países, que deram muito certo, que em algum momento eles tenham lidado com algum influxo de valor muito forte, oriundo do exterior. Em termos de história recente Iceland é um caso particularmente interessante, até porque em comum com outros países da minha análise ele tem o controle sobre a própria moeda, mas permite conta em dólar. 

Update:(Ponto no paragráfo anterior: Primeiro ponto - O impacto do Influxo na entrada)

 Outro momento importante para se analisar, é a formação do mercado de eurodólar no UK das décadas de 50-60. Onde existe todo um influxo de moeda externa para o UK, que entre outros objetivos, acaba resultando num enfraquecimento da libra. No contexto desse mercado, você ainda tem a dinâmica desse dinheiro se mover rapidamente pelo mundo.

Update: Lendo o Eizing(Paul), London tenta assegurar sua posiçao como centro financeiro (quando o dolar vira o mainstream financeiro) , isolando a libra mas assegurando o papel dos bancos Londrinos nas finanças internacionais.

Update2: Com o desenrolar do Brexit , "It's happening again" como trade de ações já não é a anos o carro chefe de Londres,a ideia agora é preservar preservar os futuros de commodities Ministers plan overhaul of capital market rules to boost City | Financial Times (ft.com) Em termos de commodities e pauta de exportação muito se fala em China/EUA, porém nesse aspecto para o Brasil os Países Baixos também são um parceiro importante, e com o Brexit Amsterdam vinha crescendo.

Dois países, que eu ainda estou revisando a literatura (em estágio inicial), são Suíça e Japão. Na Suiça, o influxo de valor estrangeiro é histórico, e se confunde com toda a dinâmica de dinheiro antigo europeu.  

O Japão é caso mais recente, mas pelo modo como ele foi uma potência local em um período que a economia da região esteve bem quebrada, isso aliado a introdução do sistema bancário americano na região, deve ter gerado algum influxo dos países da região (carece de verificação). Em comum essas duas moedas (JPY e CHF) são peças importantes no modo como o mercado de FX se estrutura hoje (O dolar é majoritário, mas estes são pares relevantes), para além disso o JP é exemplo claro de dívida impagável.

Update:Pro JP principalmente, o peso do softpower na relação com os EUA garante um influxo rumo a bolsa local. 

Olhando para o caso, em que atualmente eu estou mais adiantado em literatura que é o UK, com o tempo esse capital se moveu para Tax Havens britânicos (Jersey, Ilhas Cayman...) e a Icelando estatizou a parte mais local do sistema financeiro ( isso quando depois de 2008 o fluxo de saída causou problemas no sistema financeiro local).

Update:( Ponto no paragráfo anterior: O que aconte após o influxo)  

Nesse contexto o quadro europeu é interessante, porque alguns países conseguem desenvolver credibilidade para servirem como reserva de valor (em sua moeda ou no dolar) e esses se mantém com suas moedas, outros que falham em desenvolver essa credibilidade passam a integrar o sistema franco-germano do euro. Tem a Itália também mas como, meu foco principal é tax haven, o Vaticano e seu banco são uma estrutura mais difícil de analisar, pra além disso a Itália falha nessa construção de credibilidade.

Update:( Clarificando o paragráfo anterior: se o país falha na construçao de credibilidade própria abrir mão da própria moeda pode oferecer ganhos).

O Banco do Vaticano é uma dinâmica mais histórica que atual (ao menos aparentemente).



Esse é um ponto, interessante para entender o estado das finanças globais na atualidade, é bem difícil achar alguma Fortune 500, que não tenha subsidiária em alguma dessas jurisdições ou em Delaware, e demais equivalentes americanos. (Paragráfo se refere a citação na imagem)

E esses tax havens, precisam da exposiçao ao sistema de leis de suas ''mainlands'', até pra ter credibilidade que serve como uma layer de proteção em caso de litigio. 

Update:( Clarificando o paragráfo anterior: a ideia é que os sistemas financeiros de tax havens tem limites sistêmicos no que se refere a ser autonômo).

Vou deixar, isso em aberto por agora pra retomar o ponto principal, até porque em termos de avanços de pesquisa (de tax haven) é por aqui que estou.

Boa parte do capital mundial, reservas financeiras estão baseadas/passam por esses lugares (tax havens) em direção as taxas de juros mais interessantes. Se você lembrar que os principais fundos de investimento, em termos de tamanho são os fundos de pensão, não é interessante para ninguém que grandes economias tenham dívidas saneadas. Com os juros nos níveis atuais a situação já é suficientemente complicada.

Quando você olha para uma dinâmica de dívida é melhor pensar nas finanças de um bilionário. O Zuckerberg cria uma empresa de 700bi USD, mantém a posse de 10% (valor hipotético, porque não é relevante para o exemplo), e usa esses 70bi como colateral para ter acesso a empréstimo barato, para as despesas cotidianas (se ele fosse de fato vender as ações, ele teria que abrir mão das Golden Share dele). Digamos que desses 70bi ele consiga, em uma análise de risco, transformar num empréstimo 10%, até porque ações oscilam então nunca será 1 para 1.

Se a ação de Facebook continuar subindo, dependendo da taxa de juros, que é ínfima ainda mais atualmente ele pode refinanciar esse empréstimo basicamente ao infinito e além. Similar a dinâmica de mercado imobiliário americano que estoura em 2008, porém como o risco desses caras quebrarem é quase nulo, essa bolha não estoura (a não ser que o cara seja russo e desenvolva uma inimizade com o Putin, nesse caso um banqueiro que provavelmente é Suiço ou Londrino com operações no Cyprus vai ter um problema). 

Para além disso é difícil ver um cara como o Zuckerberg gastando mais de 300mi USD/ano, como pessoa física o. A não ser que ele que ele queira comprar um Yacth, daí provavelmente teríamos uma rebelião de acionistas, mas para esse perfil de networth boa parte dos gastos a empresa paga. Pensando por esse lado, fica fácil entender por que a Cargill não é pública até hoje, assim como boa parte do Agro Brasileiro.

Update: Tem toda uma discussao histórica sobre o que a empresa paga,e o que é gasto pessoal. Principalmente no que se refere ao uso de jatos corporativos. Essa discussão esfriou, mas de vez em quando reaparece. Nesse ponto é interessante pensar na história do BBJ da Boeing, que alguns dizem teria sido um pedido de diretores da GE.

Quando trazemos essa análise para a dívida pública, a gente volta na dinâmica tradicional de que pouco importa o valor da dívida pública, o que importa é a relação dívida/PIB se o PIB cresce, e o quadro de credibilidade permite você manter essa taxa de juros equilibrada junto com o câmbio, a conta de déficit não precisa fechar.

O PIB deve ser o foco da discussao, e em nossa analógia é o valor da ação de FB.

Ponto importante e particular da dívida pública é que ela deve ser interessante mesmo depois que as consequências do mercado de FX entram em cena, do contrário o país fica refém de emitir dívida em moeda estrangeira, e no caso brasileiro a porta do FX é bem mais estreita do que o BC brasileiro parece conseguir perceber, até porque o BRL tá longe de ser um par popular nesse mercado que é coisa de 6tri USD/dia. Fora que toda a liquidez do BRL tá concentrada na B3, então qualquer market maker fica com pouco espaço pra arbitrar e estabilizar fora do contexto de B3, e esse é (no caso brasileiro deveria ser) um mercado descentralizado.

Update: Esse argumento mais macro é bem livro texto, com a sistemática operacional de BC do Some unpleasant monetarist arithmetic, nem olhando tanto pras conclusoes. Mas na real o Fx é uma peça que faz falta ali, o que faz sentido já que não eh um problema numa perspectiva de FED, apesar que nessas ameaças de inflation GBP e CHF tem reações interessantes frente ao USD.

No mais, se uns conspiradores da inflação fazendo selloff de treasury já fizeram um barulho nos últimos dias, imagina se a China resolve acompanhar; é do deficit público que vem boa parte da integração global atual. (aliás Assistam Hamilton). 




Enfim, isso acabou sendo ideias jogadas ao vento, mas é um pouco do que ando pesquisando e lendo.

Alguns links pra fundamentar, a maioria já tá no r/cecia , de resto vou atualizando aos poucos:

Several observations on capital flows in Japan - BIS papers No 15, part 9, April 2003

The Origins of the Eurodollar Market in London: 1955–1963 - ScienceDirect

The City of London: Geopolitical Issues Surrounding the World’s Leading Financial Center | Cairn International Edition (cairn-int.info)

The Overleveraged Economy of Iceland

Foreigners cut holdings of Brazilian public debt to lowest since 2009 | Reuters

UPDATE 1-LVMH set to raise $10 bln-plus from bond markets for Tiffany deal | Reuters (Yeld negativo)

__Pontos para reflexão:

  • A capacidade desses influxos de capital externo, impactarem no multiplicador monetário/bancário mesmo sendo em moeda estrangeira. Isso na medica em que essa criacao de moeda corre por fora do BC.
  • Na perpectiva progressista (econômica), existe(no BR) um cinismo em relação ao câmbio que através do silêncio dá respaldo a esse descontrole visto nos últimos tempos. Para além  do tradeoff juros-câmbio, o discurso parece mais centrado num ideário de  indústrialização distante da realidade,na medida em que o processo fábril vai caminhando na direção da commoditização e/ou da automação.

18 novembro 2017

Dominância Fiscal: Sargent e Wallace

Da série traduções informais, não autorizadas, e não solicitadas

Some Unpleasant Monetarist Arithmetic


Aqui  a gente traduz apenas a introdução com a ideia geral do artigo,  que é traz um dos canais de dominância fiscal. O Blanchard, olhando pro Brasil pré-Lula constrói um outro canal mais enfocado no mercado de câmbio.

Em seu discurso para a American Economic Association, Milton Friedman (1968) avisou para que não se esperasse demais da política monetária. Em particular, Friedman argumentou que a política monetária não poderia influenciar permanentemente os níveis de produto real, desemprego ou taxas reais de retorno em títulos da dívida. De qualquer modo, Friedman falou assertivamente que a autoridade monetária poderia exercer um importante controle sobre a taxa de inflação no longo prazo. O propósito desse artigo é argumentar que mesmo em uma economia que satisfaz as premissas monetárias, se a política monetária é interpretada como operações de mercado aberto, então a lista de coisas que a política monetária é incapaz de fazer deve ser expandida para abarcar o controle da inflação.
No contexto desse artigo, uma economia que satisfaz as premissas monetárias (ou uma economia monetarista), tem duas características: a base monetária está diretamente conectada ao nível de preços, e a autoridade monetária pode aumentar o seignorage (TRAD:Aka liga a impressora),  ou seja obter receita através da emissão de moeda. Nós mostraremos que sob certas circunstâncias, o controle que a autoridade monetária possui sobre a inflação em uma economia monetárista é bastante limitado, mesmo quando a relação entre a base monetária e o nível de preços é forte. Em particular nós vamos demonstrar que isso é verdade quando políticas monetárias e fiscal, são coordenadas de um modo específico, e a demanda do público por juros da divida pública tem uma certa forma.

A demanda da dívida pública impõe restrições ao endividamento do governo de pelo menos duas formas. Na primeira forma, impõe-se uma restrição na relação dívida/PIB (TRAD: Se o resultado é  >1 a divida é superior a 100% do PIB [EUA e Japão], no Brasil é por volta de 0,7-0,8 (70-80%)). Outra forma é estabelecendo a taxa de juros dos títulos.

(TRAD: Pra entender essa ideia é bom pensar que quando se fala em economia aberta, existe o conceito de que a taxa de juros local deve pelo menos igualar a taxa de juros externa i=i*, assim por exemplo quando taxa de juros interna é maior que a externa, essa diferença é entendida como o prêmio de risco. Mas nem sempre é assim, por exemplo quando Brasil pagava 80% de juros durante a hiperinflação,o que rolava é  que com as variações do câmbio esses 80% viram 2%-10% em moeda estrangeira). Na verdade essa coisa de achar que tá pagando demais, e na verdade tá dando prejuízo pro outro lado é a cara do Brasil, o Hobsbawn vai falar sobre isso, quando trata da Inglaterra construindo ferrovias pelo Mundo na Revolução Industrial (A era das Revoluções).)
                                      
Na perspectiva em que a autoridade monetária acaba sob essas restrições, ela tem sua capacidade de controlar a inflação capada/limitada, em parte isso ainda vai também depender do modo como as políticas monetárias e fiscal são coordenadas.

Para ver isso vamos desenhar os seguintes quadros:

Primeiro quadro:

Imagine que política monetária (TRAD: figura do BC, Ministério da Fazenda) , domina a política fiscal (TRAD: Todos os gastos, que vão ser centralizados na figura do MPOG). Nesse formato a autoridade monetária ajusta suas próprias metas, definindo quanto vai imprimir, agora e no futuro. A autoridade fiscal sob essa restrição, define quanto vai gastar, se o orçamento fica negativo, esse déficit é financiado com uma combinação entre impressão e emissão de dívida.
(TRAD: Os autores, meio que encaram como que se a dívida fosse emitida pelo fiscal , na figura do tesouro nacional, mas no Brasil esse quadro é meio confuso, daí emerge a necessidade por uma lei de responsabilidade fiscal nessa real burocracia)

Nesse quadro a autoridade monetária (TRAD: Que é dominante), pode permanentemente controlar a inflação em uma economia monetarista, por que o lado monetário, pode escolher a que taxa gostaria de imprimir, em outras palavras definir o caminho que gostaria de seguir com a base monetária. (TRAD: E a via fiscal se ajusta respondendo a via monetária)

(TRAD: Basicamente o BC diz quanto está disposto a imprimir, e a partir dessa informação se define o orçamento público no MPOG)

Segundo quadro:

Agora o lado fiscal é dominante. A autoridade fiscal (TRAD: num ato de solitude, já que solidão é triste, e é dificilmente imaginar alguém triste com um amex black) ajusta seu orçamento anunciando todos os atuais e futuros déficits e superávits, e (TRAD: entrega a conta para o lado monetário, que vai resolver isso via dívida e impressão, lembra o Bumlai recebendo a conta do PT https://www.youtube.com/watch?v=McsjTgoDpTQ ). Mesmo que a autoridade monetária ainda possa controla a inflação, a força desse controle é menor que sob o primeiro cenário. (TRAD: Aqui é a via monetária que se ajusta sob as definições da via fiscal).




(TRAD: O ponto aqui é que via monetária está sob aquelas restrições iniciais, quanto mais dívida no mercado, mas juros, e quanto mais juros pior a relação dívida/PIB,para evitar esse quadro ativa-se a impressora e tolera-se a inflação)

(TRAD: Já para adiantar o que vai ser a chave nessa discussão, mesmo que se explore ao máximo o financiamento via dívida agora(t), invariavelmente isso vai gerar expectativa de inflação futura(t+1) [já que o fiscal continua dando déficit], dai o texto olha pro jogo entre uma taxa de impressão maior ou menor agora + Expectativa de inflação e como essa expectativa pode gerar mesmo agora (t) uma taxa de inflação mais alta).

Essa introdução ainda segue um pouco, mas com essas notas já deu para cobrir o principal.


O melhor é sempre ler o original até, porque esse é um texto bem descompromissado, mais pra levantar e qualificar a discussão, do que pra propriamente oferecer alguma conclusão. 

https://www.minneapolisfed.org/research/qr/qr531.pdf