Eu tava recentemente lendo uma discussão sobre estruturas sociais inclusivas, era esse artigo aqui, nem precisa ler tudo só o que importa mesmo é a parte de Veneza é especial a dinâmica sobre os contratos de comenda, e como isso traz novos nomes pra burguesia de Veneza no período.
O ponto chave é que você tem uma dinâmica com poucas
barreiras de entrada, que traz muita gente pra dentro. Ai trazendo a discussão
pro Brasil você vê dois canais políticos pra criar essas instituições
inclusivas: a esquerda tenta fazer a universidade ser essa instituição
inclusiva, a direita joga isso no militarismo.
E pra mim cada vez mais o militarismo parece um canal melhor
pra construir essa dinâmica de instituição inclusiva.
Tanto as instituições militares quanto a universidade são
instituições muito fechadas em si mesmas no Brasil. E com isso quero dizer que
na base da sociedade voce não encontra nenhuma metodologia clara na forma de
organizar as estruturas sociais, seja o modelo rígido do militarismo ou a coisa
mais livre da universidade. No máximo alguma metodologia mais próxima aquela
das instituições policiais, mas mesmo entre as instituições policiais você não
encontra um padrão de metodologia muito claro na medida em que voce vai
comparando pelo Brasil.
A universidade hipoteticamente se propõe a ser um espaço livre
para pensar, mas qualquer um que conheça minimamente os meandros da política no
ambiente acadêmico sabe que essa é uma perspectiva bem ilusória.
No contexto do militarismo você tem uma direção que parte de
cima e chega até base. E ao longo da hierarquia você vai alocando recursos. No mundo perfeito você conseguiria encaixar a
universidade sob a hierarquia militar pra atender as demandas de tecnologia do
militarismo. Daí você teria, uma estrutura social que é em princípio eficiente
no que tange a inclusão.
O risco é sempre o de você acabar criando uma estrutura pouco
inclusiva na base, mas que retorna muito poder ou dinheiro pra quem tá no topo.
O ideal é que tenha um ciclo constante de renovação no topo...pra quem quiser
ir além de Veneza, o artigo que indiquei, chega a uma análise de Roma. E até olhando
historicamente o militarismo tem sido um bom canal pra gerar a renovação na
burguesia...e muito do problema brasileiro é uma burguesia excessivamente
estática.
O problema da universidade, é que a produção acadêmica
brasileira não tem nenhum norte claro, ou não atende a nenhum objetivo específico
de interesse nacional. Nesse contexto ela invariavelmente cai em falta de
recursos, e baixa qualidade. Daí a minha perspectiva é que a demanda de tecnologia
do militarismo pode servir como norte pra orientar essa pesquisa acadêmica...historicamente
o militarismo brasileiro falhou em ser esse norte, na medida em que a alocação
de recursos era uma coisa feitas nas coxas tipo de “bota dinheiro na engenharia”
ao invés do “bota dinheiro pra resolver essa questão”.
A minha perspectiva é que a alocação de recursos na academia implementa no último ciclo militar foi idiota, e
criou um sem fim de vícios sistêmicos... o ideal é que a alocação de recursos
parta de uma questão mais geral que atenda a um interesse nacional. Em última
instancia essa abordagem mais generalista vai ser gerar um ecossistema mais amplo de pesquisa.
Isso é até um ponto interessante porque quando voce olha a relação
do militarismo pelo mundo, você vê que a área principal fica ali entre medicina,
química e psicologia, e principalmente línguas estrangeiras pra operação de Intel
externa. O peso da engenharia no Brasil, ainda remonta muito ao ufanismo
desconexo da realidade e da discussão acadêmica que imperou no período militar.
Então esse seria um ponto para se endereçar num próximo ciclo de instituições
inclusivas.
O Brasil nunca teve uma revolução cientifica clara, quando você
olha pelo mundo isso ocorre na medida em que há a introdução da prensa. E a partir
disso começam a surgir os periódicos acadêmicos. No Brasil isso não aconteceu,
tanto que figuras como o Roquette pinto, e qualquer outro acadêmico publicavam
livros e não artigos. Então seria um ponto pra ser direcionado no
desenvolvimento de instituições inclusivas.
Supondo que o modelo em que a academia se torna subserviente
as demandas tecnológicas do militarismo funcione. Como você vai consolidar e
manter esse know-how? Vai ser na forma de Big-Corps (GE, SIEMENS, Boeing,
Bayer) , em várias empresas menores ou ainda você vai tentar manter esse know-how
dentro das instituições militares e assim dentro do estado?
Aqui eu entendo que Know-how nada mais é do que a equipe que
sabe fazer alguma coisa. Se você conseguir preservar equipe, ela vai gerar
valor seja dentro de uma empresa ou dentro de uma instituição militar. E esse é
um ponto pra entender a guerra fria, pq no modelo americano a equipe e o know-how
emergem no ecossistema militarismo-universidade e depois pra fins de propaganda
se consolidam numa empresa. No sistema soviético tudo fica dentro do militarismo,
e no sistema alemão voce encontra mega corporações que absorvem essas equipes,
sendo a Siemens o caso mais interessante.
O destaque da Lockheed na foto, é porque esse perfil de corporation foi chave pra gerar trabalhos blue collar no pico de crescimento americano, que pagavam bem, e foram a base da "matrix" americana e do american dream. Mas modelos inclusivos que não dependam de 'empresas' são possíveis, acaba sendo uma questão de criatividade.
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