É fato que certos formatos de produção, com o tempo perderam a capacidade de envolver o telespectador. O que não significa dizer que os mesmos estejam ultrapassados, mas em tempos de segmentação, eles agora ficam restritos a tipos específicos de audiência. A telenovela é um desses casos, sem o dinamismo de uma série, e no caso brasileiro tendo de atender aos mais diversos públicos, o produto perdeu a capacidade de oferecer novidades. O que não é demérito, por vezes o que busca o espectador é simplesmente aliviar as ideias numa série de clichês. A novela está para o Brasil, assim como as comédias românticas estão para o cinema americano. Posto que no fim, todos serão felizes para sempre.
E assim, com um novo público que tem novas demandas , começam a surgir séries de qualidade no Brasil, e até mesmo na Tv aberta. A HBO já vem a algum tempo apresentando produções de qualidade, como Preamar e O Negócio, séries que desfrutam de uma linguagem cinematográfica, um fruto do modo como são produzidas: uma parceria feita entre a HBO e as produtoras.
Na Globo, as séries sendo uma produção própria, embora desfrutem de características técnicas cinematográficas, no que se refere ao roteiro e ao elenco ainda tem os vícios da tv, o que resultam em romances não se encaixando no enredo, e um didatismo tedioso no detalhamento de detalhes irrelevantes. Há ainda os diálogos forçados.
Ainda assim a produção de séries na Globo vem amadurecendo, como prova a incrível atuação de Bruno Gagliasso, no papel do psicopata e serial killer Edu, em Dupla Identidade. A série tem sim os vícios de uma novela, e atuações que flutuam em qualidade. Luana Piovani no papel de Vera oscila, com uma atuação que não convence em diversos momentos, mas em outros momentos da trama a atriz mergulha no papel de powerful women, e deixa de lado o didatismo excessivo da personagem. Infelizmente a série prefere apresentar Vera como uma cientista, que provavelmente frequentou a equipe de Crimanal Minds, e deixa em segundo plano a Vera powerful women, característica mais interessante e com a qual Piovani lidou melhor.
Marcelo Novaes em toda a série consegue se manter estável, numa atuação coerente com o personagem, mas sem maiores destaques. Novaes interpreta o delegado Dias que almeja o cargo de secretário segurança, e se divide entre a politica e as investigações de uma série de assassinatos. É o personagem que possuí a melhor construção dentro do enredo, já que enquanto alterna entre a politica e a policia desenvolve uma profundidade humanizadora, através da apresentação de seus "porquês". Junto de Luana , Novaes encena um romance que destoa do enredo.
A atuação de Bruno Gagliasso é excelente. O ator que já dera vida ao esquizofrênico Tarso em Caminho das Índias, retorna ao universo das patologias psiquiátricas, e com um figurino bem selecionado , faz com que a série mereça a atenção dentro do ainda pequeno universo de séries brasileiras.
O roteiro é um dos maiores pecados da série, mas felizmente evolui no decorrer dos episódios, e aos poucos o politicamente correto vai dando espaço a expressões chulas, que contribuem para personagens "mais palpáveis" diante da realidade. E o desenrolar da trama, em meio ao vai e vem, acaba se desenvolvendo de forma sútil, deixando de atender as expectativas dentro do esperado, e chegando a oferecer pequenas surpresas. Há ainda Débora Falabella, com uma personagem que em principio pode soar trash, mas que cresce no decorrer da trama.
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