09 fevereiro 2019

Diários FHC: Primeiras impressões


É interessante pensar em como o espaço para o aprofundamento, se escasseia conforme o individuo progride. Comecei a leitura do volume 1 dos diários de FHC. Avancei bem poucos capítulos, mas não deixa de me impactar a sensação de que algo está errado naquela narrativa, e de modo geral em todos os grandes círculos que se propõem as macrodecisões.

O mais próximo desse tipo de narrativa com o que havia tido contato previamente, era uma pequena coletânea dos diários de Goebbels. Extremo admito, mas o que quero tratar independe do juízo de valor que se faça da figura histórica.

Como espectador externos, acabo quase sempre ficando fascinado no modo como os grandes dilemas acabam relegados a papéis secundários nos círculos de macrodecisões, no caso meu objetivo é aqui analisar questões de estado, mas se pensarmos que com o tempo os executivos acabam se dedicando mais ao cultivo das relações pessoais(clientes,fornecedores...), do que ao próprio mainbusiness é fácil ver que essa distanciamento das macrodecisões em relação ao microgerenciamento, é comum a todo tipo de instituição.

Se nos diários do ministro da propaganda Nazista vemos a importância que se atribui a suas interações com o Fuhrer e com os demais membros do círculo íntimo, se sobressaindo sobre qualquer questão técnica de sua bem-sucedida atuação enquanto ministro da propaganda. O quadro não é diferente na forma como percebo o cotidiano de FHC nesses primeiros períodos anos do mandato.
Em última instancia é difícil imaginar um CEO, ou um presidente tendo tempo de pensar nas micro gerências, com o tempo esses indivíduos acabam isolados falando para todos, mas interagindo efetivamente, com um pequeno grupo, e muitas vezes formando suas reflexões baseado apenas nas leituras de terceiros.

O que sempre me choca nessas biografias, é a inexistência da construçãodas próprias leituras. É sempre como se estivesse lendo sobre fatos cotidianos irrelevantes dos quais misteriosamente saem as decisões que efetivamente guiarão os agentes na base da sociedade.
Se eu leio os diários de Goebbels ou de FHC, eu quero entender o que eles estavam construindo, e não suas relações pessoais. Como surgiram peças de propaganda de propaganda tão marcantes na Alemanha desse período? É o que eu queria saber, mas não é isso que eu encontro nesses diários. Terei muito mais sorte procurando a  técnihistória doscos subordinados a essas figuras. Se eu quero entender o sucesso do Itaú, talvez seja melhor procurar pelo Wollner do que pelos Setúbal.

O mais provável é que quando o individuo chega ao ponto de totalmente se desligar da microgestão, surja essa grande distorção capitalista, das macrodecisões tomadas por pessoas totalmente desconectadas da discussão micro.

Eu tenho um fascínio por esse período na história,pelo modo quase religioso em que parcelas da sociedade abraçaram a ideologia nazista. Ver o Deutsche Bank abraçar, e lucrar com o confisco de propriedades de judeus é uma coisa, mas ver a dinâmica cooperativista, e até idealista que surgem em movimentos como a Hittler Youth é algo mais forte. E são movimentos que se tenta ora evitar, ou estimular no Brasil, seja com as aulas de educação moral e cívica, ou agora com a escola sem partido.

De algum jeito esse modelo de liderança nos distância dos indivíduos que vão tentar construir suas leituras da sociedade...faz pensar que talvez esse governo dê certo, não porque as pessoas sejam boas, mas porque são idiotas o suficiente para tomarem as macrodecisões de forma rápida, pouco pensada....de uma forma medíocre, contudo embasada por um corpo técnico que no âmbito Federal, amadureceu nas últimas décadas.

Talvez seja mais barato simplesmente entregar a alta gestão ao corpo técnico.

Em vez de a cada quatro eleger uma pessoa, eleger uma universidade...

Pra além, dos modos de como isso poderia ser desvirtuado, talvez seja mais barato.

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