22 novembro 2017

Mato Grosso: O self-Made Man Brasileiro


Para começar a entender o Mato Grosso, é bom começar a pensar no Brasil da década de 1970. Brasília recém-contruída, governo militar sem caixa, uma sem fim de terras com a qual ninguém sabia o que fazer...E nos centros urbanos toda aquela zona com movimentos estudantis que não entendiam muito do que estava acontecendo.

Sob esse cenário é bem fácil imaginar que o governo vai tentar fazer de tudo para acelerar, a economia. E nesse aspecto não teve muita inovação no receituário militar... Ponte Rio-Niterói, transamazônica...mas ainda tinha um bocado de terra ali embaixo no então estado de Mato Grosso, que na época era tão importante, que ninguém nem fazia questão de brigar por separação.

Na outra ponta você tinha o sul, com um sem fim de fazendeiros, preferindo vender as terras para aproveitar a especulação imobiliária, no meio de todo aquele crescimento keynesiano que o governo estava bancando. Tanto é que hoje em dia o Sul ainda é um importante produtor, mas em geral são produções menos intensas em capital, e por vezes até mesmo em terra. Tanto que você encontra por lá ainda gente como o Gugu gaiteiro fazendo suas 10-50 sacas de soja ( https://www.youtube.com/watch?v=tTGcjwhEA-8 ). Mas isso não dá muito dinheiro, mesmo se você considerar a saca na banda de 50-70 BRL, isso vária MUITO, então mesmo a banda sendo intensa, provavelmente ainda vai ter variações fora dela...Bom o Jim Simons agradece (dá uma olhada por volta de 10 min aqui  , ou aqui em 37min), pode até não ser o que ele faz hoje, mas a história dele passa por esse mercado sim. E isso é interessante, até porque as pessoas estão tão acostumadas com Nasdaq e Dow Jones que esquecem de Chicago. E como todo trader bem treinado sabe (https://www.youtube.com/watch?v=stiDcBLXuRY - Depois do Goldman Sachs esse maluco, provavelmente rico e desiludido foi pra BBC ensinar gente comum a fazer trade) é nessas variações loucas do mercado de commodities que está o grosso do dinheiro.

Mas voltando ao Sul, para entender Mato Grosso... essa noção do Sul com um papel de menos "capital intensive", fica clara quando vemos a produção de fumo no Brasil. O maior produtor é a cidadezinha de Venâncio Aires no Rio Grande do Sul. E por quê estamos olhando para a cultura de fumo especificamente?  Pelo fato de ser uma cultura que é menos intensiva no uso de terras, e na maioria das vezes é também uma produção que embora seja cada vez mais profissional, é tocada por famílias https://www.youtube.com/watch?v=AP4d7WtQyAc .

E essa dimensão da questão familiar é muito importante no modo como agronegócio brasileiro funciona, até porque mesmo quando chegarmos em seus extremos nos dias de hoje vamos chegar na família Maggi.

E a história da própria família Maggi se confunde com a história de Mato Grosso, me lembro de em minhas andanças pelo Estado ficar impressionado com o sem fim de bairros e ruas que leva o nome de algum membro da família. Se você tentar colocar só Maggi no google Maps, ele provavelmente vai ficar confuso.

Tá, mas voltando pra história do Estado, como é que isso se conecta com Sul? Bom o fato é que na zona que o Brasil estava com as contas da construção de Brasilia qualquer dinheiro que entrasse,já fazia uma diferença então o governo começou a praticamente dar terras, para quem quisesse ir para aqueles lados do centro-oeste. E de certo modo isso se reflete até hoje nas estruturas sociais da região como um todo. O que acaba sendo interessante é que nesse cenário Brasília é o primo rico que não fala com ninguém. E se você para pra perceber tem uma diferença muito drástica no ritmo de vida quando você saí de Brasília para Goiânia. A dimensão do ritmo de vida do campo é muito intensa em tudo que está ao redor de Brasília. Mas essa interessante mistura gera resultados interessantes.

Como o Deputado Joe Valle, um dos caras mais interessados em fazer esse país dar certo que eu já encontrei por aí. Ele é deputado distrital, mas toda a história de vida dele é mesmo no campo ( https://www.dinheirorural.com.br/secao/agronegocios/o-guru-da-comida-saudavel ), e nesse "entre os ritmos" de vida de Brasília e do que está em volta dela ele acabou produzindo comida orgânica.

"O hotel é mais caro durante a semana, final de semana sobra promoção". (Brasiliense sobre Brasilia).

Outro ponto interessante dessa região, é que como Brasilia é a terra do concurso público, e nas cidades em volta o pessoal ganha dinheiro no campo. Isso gera o contexto confuso, do primo rico e primo...não tão pobre. E é nessa dinâmica do Primo não tão pobre a gente vê surgir as empresas como a JBS, que tá,  ficou meio marcada com esse lance todo do PT, mas não deixa de ser uma baita de uma história do self-made man brasileiro.  A tendência é que cada vez mais vamos observar boas histórias de empreendorismo vindo dessa região. A última que ando vendo com cada vez mais frequência nessas bandas cariocas, é a Piracanjuba ( https://www.youtube.com/watch?v=1WXMaI8R-yI ), uma marca da qual provavelmente você já comprou alguma coisa, mas nem sábia que era uma cidadezinha de Goiás.

Esse pessoal começa montando uma empresinha de bens de consumo, afinal o frete RJ/SP-CO é incrivelmente caro. Tanto é que ir a um mercado em Cuiabá, e não aceitar trocar uma marca paulista por outra local é aceitar perder dinheiro.E em todo lugar que você vá tem essa dinâmica empreendedora: nos bens de consumo, me lembro de uma época, morando em Rondonópolis, que sabe-se lá porquê o leite saiu 2,5BRL para 4BRL. A cidade é rodeada de fazendas leiteiras, então não demorou muito para começar a ver pequenos fazendeiros trazendo leite de moto para a cidade todos dias, sempre que dava  9h-10h.

Eram garrafas pet com leite que saiam mais barato, do que leite de caixinha no mercado, que tinha só um 1 litro.

Numa cidade como Rondonópolis, ou você é o Eraí Maggi (que aliás é o braço produtor da família Maggi na figura da Bom Futuro...dessa você nunca ouviu falar né?), ou você vai ter que dar um jeito de se virar, porque como você não precisa de tanto dinheiro na cidade ( uma casa de 3 quartos a 15 minutos da UFMT dava 700 BRL) os salários vão ser essencialmente baixos.




Como a cidade é pequena, você tem essa dimensão de que todo mundo se conhece, e você já tem até um referencial de empreendedor que todo mundo quer ser é o Luizão ( tem uma entrevista muito bacana dele aqui https://www.youtube.com/watch?v=jMZ8PbE_2q0&t=2684s ). Essas regiões, como estão bem distantes dos centros não tem tanto a dimensão de que dependendo do bairro em que você mora, você conhece alguém em Brasília...então boa parte dessa galera quando começa, só está correndo atrás de algum dinheiro, para garantir algum conforto para família. E o interessante é que quando essa ideia chega nos centros, logo ela reflete na imagem da bancada do agro... que nada é só gente correndo atrás e começando a dar resultado.




 E pra fins de fechar o arco,o fato é que muitas famílias do Sul acabaram indo para o centro-oeste se aproveitando das terras baratas. Tanto é que no norte de Mato Grosso tem uma cidade chamada Sinop, que na verdade é uma sigla para Sociedade Imobiliária Noroeste do Paraná. A empresa é uma colonizadora (recebem laudêmio até hoje), que foi em busca de aproveitar terras baratas.

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