13 outubro 2017

Melhorando o vestibular e mensurando a mediocridade

Selecionar gente é problema histórico num país, tal qual o Brasil, onde a partir de processo seletivo objetivo, direto e igualitário, vamos definir a classe social da qual o indivíduo será parte. Historicamente isso se manifesta nos concursos públicos, e mais recentemente nos processos seletivos das universidades.
A grande questão é que processos seletivos tal qual o vestibular ao olharem um resultado final, ignoram todo o processo de formação pessoal do indivíduo. Essa objetividade excessiva torna o processo sujeito a inúmeras distorções, fruto do fato de ignorarem o contexto do qual um resultado se origina.
O processo de formação da elite do país, ao ignorar toda a construção por trás do resultado final gera como consequência uma elite medíocre com muito pouco potencial para alavancar a economia. E aqui vamos buscar analisar a mediocridade no contexto de processos seletivos, em especial o vestibular, já que o ferramental em execução atualmente, dá espaço para alguns aprimoramentos.
A ideia é relativamente simples, e assume como premissa básica a tendência natural humana em direção a mediocridade, que talvez encontre certa lógica na biologia, mas esse é um detalhe que não será aqui relevante. Por mediocridade, de modo simplista temos: tentar fazer o mínimo possível, para obter o maior resultado possível. Essa ideia fica bem clara, no exagero presente na metáfora do maratonista que pega um taxi para ganhar a maratona (Aka The Fresh Prince of Bel-air).
De volta ao mundo real, se não temos a figura de um taxi em processos como o vestibular temos contextos sociais, e estruturas familiares que tornam o caminho mais curto rumo a um resultado (nota) maior. E é nesse ponto que a objetividade excessiva, aliada a real burocracia brasileira, gera uma distorção nos sistemas de processos seletivos brasileiros, na medida em que eu apenas observo a ordem de chegada ignorado o trajeto.
O modo mais prático de incorporar o trajeto na modelagem de processos seletivos é – obviamente – pensar em proxies que incorporem este elemento, uma “proxy trajeto”. O Enem tem ao longo dos anos criado uma base de dados com material mais que suficiente para essa proxy, na perspectiva em que eu consigo associar uma nota média a um bairro, região ou em última instância a uma escola, ou até mesmo pensando por uma outro caminho a uma faixa de renda (embora trabalhar com faixa de renda irá gerar alguns problemas).
O meu objetivo aqui é estabelecer o dilema: Porque o foco no momento da concorrência é o resultado final, e não uma relação entre o resultado e o contexto do qual ele se origina?

Na equação acima eu proponho uma solução básica, onde que se vai comparar no momento da concorrência, é uma proporção entre a nota do aluno e a “proxy trajeto”(prtrN), que pode por exemplo ser a nota média da escola, ou da região em que a escola se encontra. O ideal é que sejam zonas definidas com base no nível de renda, isso na perspectiva em que transições no nível de renda tendem a se traduzir em mudanças geográficas, que são mais facilmente captadas (em um histórico escolar).
Essa noção de transição entre diferentes contextos(mudança de escola por exemplo), eu expresso no tempo em que o aluno passa estudando numa determinada zona de renda(Exp.prtrN), como uma proporção do tempo total(Exp.prtrTotal )que ele frequentou a escola.
Nesse processo eu gero uma espécie de coeficiente de mediocridade, que respeita os diferentes contextos. Tendo em mente que a realidade brasileira é desigual, e que a mediocridade é uma variável que vai responder ao contexto social.
Assim no momento da concorrência eu vou estar analisando Coef final dos candidatos e não uma nota bruta, descontextualizada.

Essa ainda é uma ideia inicial, mas que pode ser interessante para aprimorar as políticas de cotas por exemplo. Alguns pontos falhos são por exemplo como incorporar o contexto familiar, e como lidar com as estruturas de pré-vestibular, elas devem entrar na conta?. E até pelas bases, a ideia ainda é falha em cobrir outros sistemas de processos seletivos. Enfim são apenas algumas conjecturas iniciais. 

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