A perspectiva de um mundo com conhecimentos cada
vez mais específicos, nos conduz a um mundo de ciências cada vez mais
complementares entre si. Ciências nas quais a imersão se dá de diferentes
modos. Modos que refletem o objeto de estudo da própria ciência, e conforme se
observa no fluxo histórico, a capacidade dos grupos de ciência em oferecer uma
resposta a determinada pergunta, reflete diretamente o modo pelo qual os indivíduos
imergem nessa ciência.
Primeiro Grupo: As ciências que requerem a imersão
numa ideia alheia, as quais para serem absorvidas requerem a absorção do
contexto das quais se originam. Aquelas que a grosso modo requerem um aluno que
se disponha a navegar por esse universo de pensamento, e não funcionam em
pedaços isolados. No processo de imersão, é necessário reconstruir o pensamento
das quais se originaram.
Segundo Grupo: As ciências que se constroem na
cabeça do individuo através da absorção de peças “cruas”, e na combinação
dessas peças se constroem na cabeça do individuo, de um modo muito particular,
e funcionam independentemente do contexto dos primeiros a lhe formularem. Essas
peças são alheias ao pensamento humano, o que permite a dispensa da reconstrução
do pensamento original, logo no processo de imersão o individuo pode construir
um pensamento próprio, no qual essas funcionem individualmente, e cresçam em
potencial de uso, com o acumulo de novas peças.
É como se o primeiro grupo fosse o pensamento
humano, e o segundo a construção da natureza. O segundo grupo é Darwinista,
funciona alheio ao ser humano. O primeiro é Lamarck buscando atribuir a noção
de sentido, tentando atribuir uma lógica que vá além do mero “é o que
acontece”.
No fim esse jogo entre as ciências, reflete o
próprio ser humano. Enquanto que no primeiro se observa no pensamento, a própria
essência do ser humano, que traz uma noção de unicidade muito provavelmente
falsa ao ser. O segundo grupo com suas peças que funcionam porque
funcionam, sem em sua essência precisar apresentar sentido – algo que
imediatamente reflete uma necessidade do primeiro grupo de ciências, que é uma
necessidade da existência humana – reflete uma natureza que é para desgosto
humano um vazio de sentido.
Quando se vai observar essa realidade vazia, o ser
humano de imediato busca um padrão que se justifica no modo operacional de seu
grupo cientifico de origem. Por anos o primeiro grupo ofereceu um a resposta
religiosa para a “origem”, com o renascimento, acontece um encontro entre os
grupos e começam a se formar os grupos intermediários. E o universo começa a
ganhar os contornos de algo que segue um padrão lógico.
No fim a essência humana é a acomodação, mas quando
os indivíduos que se desviam desse padrão oferecem uma resposta, isso tende a
gerar um deslocamento da massa para a resposta que melhor lhe satisfizer, e
esse não é um movimento no pensamento individual, mas no pensamento coletivo,
que por essência é frágil já que simplesmente reflete a tendência ao comodismo
humano.
O comodismo não quer a verdade, quer apenas algo
que lhe permita distanciar-se do vazio de sentido.
No que se vê hoje, com essa perspectiva do distanciamento
entre os grupos extremos da ciência, os indivíduos se esquecem que o objetivo
primário de ambos os grupos é oferecer alguma espécie de sentido/razão.
Na história da humanidade cada grupo desenvolveu
sua linguagem, mas ambas em essência são frágeis, funcionam são eficientes no
que se propõem a expor, mas de modo geral todas as formas de linguagens falham,
na medida em que são incapazes de guardarem em si, algo além de um produto
final.
O pensamento humano em qualquer grupo de ciências,
está além do produto final, ele tem imagens, tem cheiro, tem som, tem essência.
E a incompletude das linguagens humanas, reflete a incompletude da capacidade
de se conectar que há entre os indivíduos da espécie. De modo que as
linguagens, dentro de uma perspectiva biológica são a maior limitação ao avanço
da espécie, e da própria humanidade, está recheada de sentido acumulado com o
avanço da linguagem pela história.
É fato que essa busca por sentido, tem de algum
modo permitido avançar contra essa limitação da linguagem, na medida em que as
invenções vão oferecendo uma forma de traduzir o pensamento humano, mas são
ainda incapazes de expor o pensamento humano, sem a intermediação de um
processo de tradução. A espécie está avançando, e em algum momento vai
encontrar uma linguagem completa o suficiente, para limitar a noção de
unicidade dos indivíduos, ao acumulo de vivências.
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