01 julho 2017

A busca de sentido humana, e a incompletude das linguagens

A perspectiva de um mundo com conhecimentos cada vez mais específicos, nos conduz a um mundo de ciências cada vez mais complementares entre si. Ciências nas quais a imersão se dá de diferentes modos. Modos que refletem o objeto de estudo da própria ciência, e conforme se observa no fluxo histórico, a capacidade dos grupos de ciência em oferecer uma resposta a determinada pergunta, reflete diretamente o modo pelo qual os indivíduos imergem nessa ciência.

Primeiro Grupo: As ciências que requerem a imersão numa ideia alheia, as quais para serem absorvidas requerem a absorção do contexto das quais se originam. Aquelas que a grosso modo requerem um aluno que se disponha a navegar por esse universo de pensamento, e não funcionam em pedaços isolados. No processo de imersão, é necessário reconstruir o pensamento das quais se originaram.

Segundo Grupo: As ciências que se constroem na cabeça do individuo através da absorção de peças “cruas”, e na combinação dessas peças se constroem na cabeça do individuo, de um modo muito particular, e funcionam independentemente do contexto dos primeiros a lhe formularem. Essas peças são alheias ao pensamento humano, o que permite a dispensa da reconstrução do pensamento original, logo no processo de imersão o individuo pode construir um pensamento próprio, no qual essas funcionem individualmente, e cresçam em potencial de uso, com o acumulo de novas peças.

É como se o primeiro grupo fosse o pensamento humano, e o segundo a construção da natureza. O segundo grupo é Darwinista, funciona alheio ao ser humano. O primeiro é Lamarck buscando atribuir a noção de sentido, tentando atribuir uma lógica que vá além do mero “é o que acontece”.

No fim esse jogo entre as ciências, reflete o próprio ser humano. Enquanto que no primeiro se observa no pensamento, a própria essência do ser humano, que traz uma noção de unicidade muito provavelmente falsa ao ser. O segundo grupo com suas peças que funcionam porque funcionam, sem em sua essência precisar apresentar sentido – algo que imediatamente reflete uma necessidade do primeiro grupo de ciências, que é uma necessidade da existência humana  reflete uma natureza que é para desgosto humano um vazio de sentido.

Quando se vai observar essa realidade vazia, o ser humano de imediato busca um padrão que se justifica no modo operacional de seu grupo cientifico de origem. Por anos o primeiro grupo ofereceu um a resposta religiosa para a “origem”, com o renascimento, acontece um encontro entre os grupos e começam a se formar os grupos intermediários. E o universo começa a ganhar os contornos de algo que segue um padrão lógico.

No fim a essência humana é a acomodação, mas quando os indivíduos que se desviam desse padrão oferecem uma resposta, isso tende a gerar um deslocamento da massa para a resposta que melhor lhe satisfizer, e esse não é um movimento no pensamento individual, mas no pensamento coletivo, que por essência é frágil já que simplesmente reflete a tendência ao comodismo humano.

O comodismo não quer a verdade, quer apenas algo que lhe permita distanciar-se do vazio de sentido.

No que se vê hoje, com essa perspectiva do distanciamento entre os grupos extremos da ciência, os indivíduos se esquecem que o objetivo primário de ambos os grupos é oferecer alguma espécie de sentido/razão.

Na história da humanidade cada grupo desenvolveu sua linguagem, mas ambas em essência são frágeis, funcionam são eficientes no que se propõem a expor, mas de modo geral todas as formas de linguagens falham, na medida em que são incapazes de guardarem em si, algo além de um produto final.

O pensamento humano em qualquer grupo de ciências, está além do produto final, ele tem imagens, tem cheiro, tem som, tem essência. E a incompletude das linguagens humanas, reflete a incompletude da capacidade de se conectar que há entre os indivíduos da espécie. De modo que as linguagens, dentro de uma perspectiva biológica são a maior limitação ao avanço da espécie, e da própria humanidade, está recheada de sentido acumulado com o avanço da linguagem pela história.

É fato que essa busca por sentido, tem de algum modo permitido avançar contra essa limitação da linguagem, na medida em que as invenções vão oferecendo uma forma de traduzir o pensamento humano, mas são ainda incapazes de expor o pensamento humano, sem a intermediação de um processo de tradução. A espécie está avançando, e em algum momento vai encontrar uma linguagem completa o suficiente, para limitar a noção de unicidade dos indivíduos, ao acumulo de vivências.

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